
Depois de um tempo sem falar sobre Criminologia, resolvi escrever uma série de artigos sobre o tema que serão postados aos poucos. O tema é importante, diante de tantos crimes bárbaros que vêm sendo perpetrados não só no exterior, mas também no Brasil, onde os casos de assassinatos promovidos por psicopatas vem mobilizando nossas autoridades e deixando perplexos a população. As causas desse aumento são variadas, mas por trás desses crimes hediondos escondem-se alguns fatores extremamente sombrios, como, por exemplo, o fato de que a prisão muito pouco pode fazer para tentar ressocializar um criminoso serial. A crueldade, o desprezo pela vida e o poder que eles sentem que exercem sobre as vítimas lhes dão prazer e não há castigo que os impeça de agir de novo. Pesquisas recentes apontam que apesar de apresentarem, em geral, um bom comportamento na prisão, 70% dos psicopatas reincidem no crime após o cumprimento da pena. Nas cadeias, eles representam algo em torno de 20% da massa carcerária e são responsáveis por mais de 50% dos crimes mais graves cometidos por presidiários. Normalmente, aqueles crimes com requintes de crueldade, que chocam a opinião pública, têm um psicopata por trás deles.
O psicopata tem uma grave falha de consciência moral (aquele velho freio da nossa consciência que sabe o que é o bem e o que é o mal). Ele ignora a sanção advinda da lei, pois ele possuiu o seu próprios sistema de leis, sem se importar com as consequências, já dizia o psiquiatra argentino Luis Alberto Kvitko, professor de Mecicina Legal da Universidade de Buenos Aires. O pior de tudo é que o psicopata tem consciência de todos os seus atos, apesar de tentarem negar isso quando são presos. Ele não liga para a dor sentida pela vítima e essa violência, às vezes, é manifestada para satisfazer uma necessidade imediata, como, por exemplo, o sexo. Depois de consumar o ato (estupro), ele sente indiferença, prazer ou poder em vez de remorso. A fórmula pode estar numa mistura sinistra de falha moral, ausência de culpa, liberdade interior sem limites, histórico de violência sexual na infância ou adolescência, lesão cerebral, doenças, necessidade de poder, prontidão para tirar vantagem de qualquer situação, enfim, isso torna o psicopata um criminoso diferente. O criminoso comum tem um transtorno de caráter, mas nem sempre pratica a crueldade de forma fortuita como realiza um serial killer, que comete 4 vezes mais crimes violentos que o criminoso comum. Algumas pesquisas revelaram que o psicopata não reage a estímulos que despertam uma descarga agressiva, porque ele não precisa deles para agir. Pleo contrário, o psicopata sabe trabalhar muito bem e manejar o seu estresse. Um estudo canadense mostrou que com sua capacidade de simular arrependimento, os psicopatas têm chances 2,5 vezes maiores de conseguir a liberdade condicional. Poucos deles reduzem a atividade criminosa após os 40 anos de idade. O psicólogo forense Stephen Porter diz que a psicopatia é um dos prognósticos mais poderosos de reincidência de crimes. Alguns dados: os psicopatas cometem 44% dos homicídios contra policiais nos EUA e a probabilidade de o psicopata matar estranhos é 7 vezes maior que entre outros criminosos.
A pergunta que se faz é a seguinte: haveria tratamento para eles ? Infelizmente, a realidade hoje é que tentar tratar um psicopata adulto não vai surtir resultados, pois quando é forçado a passar por terapia, em geral, ele fica pior, pois aprende como usar a psicologia para manipular ainda mais as pessoas. Vivemos hoje em um mundo onde nos deparamos, frequentemente, com crimes em que observamos casos em que fica claro nitidamente a falta de valores, de moral e de princípios sobre regras sociais e éticos. São filhos irresponsáveis atuando à margem da lei, pais ainda piores que passam a mão na cabeça de seus filhos, perpetuando ainda mais a noção de impunidade, e gerando lá na frente a possibilidade de estar formando um criminoso. É muito importante a sociedade, urgentemente, repensar qual é o seu papel e cobrar do Estado providências. Não só através de legislações-álibis ou, como os doutos chamam de emergência, a cada crime bárbaro que se pratica. É necessário rever não só a nossa legislação, mas a sociedade precisa decidir de que forma pretende pressionar o Estado a fim de garantir a efetividade da aplicação de sanções a esses criminosos. Até a próxima.
Ricardo Ferreira